A cidade ostenta o título de “Capital dos Free Shops de Fronteira” e vive um dos momentos mais importantes da história do comércio de Uruguaiana, com uma transformação social constatada pelos empresários que apostam nas lojas francas e vivenciam uma mudança que não pode ser caracterizada apenas como uma efervescência comercial passageira, mas uma real mudança através da inclusão e diversidade de públicos, com compradores tanto do interior do município, como dos grandes centros urbanos e estrangeiros.
O entusiasmo anima não somente os uruguaianenses, mas moradores de toda a região, que diariamente visitam a cidade para fazer compras nos free shops e adquirir produtos importados. Também chamadas de duty free shop, o modelo de comércio vem atraindo turistas de outras localidades do Rio Grande do Sul, inclusive de Porto Alegre, além de visitantes de outros estados brasileiros, como São Paulo. Da mesma forma, estrangeiros estão vindo à fronteira para adquirir mercadorias. E o mais estimulante é que a empolgação comercial não aquece apenas as vendas nas lojas francas, mas fomenta o turismo e a gastronomia local.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Free Shop, Salman Adel Salman, mensalmente 50 mil compradores passam pelos free shops de Uruguaiana. “Outro fato importante é a questão da geração de emprego, com 400 cargos diretos e 600 indiretos”, assegura o empreendedor.
Com cota limite de 500 dólares por CPF a cada 30 dias e a oportunidade de parcelar no cartão de crédito, as compras são estimuladas e promovem o comércio nos free shops de Uruguaiana. De acordo com Salman, perfumes e eletrônicos estão entre os produtos mais vendidos.
A previsão é que o número de empreendimentos aumente nos próximos anos em Uruguaiana, declara Salman: “Incentivamos a abertura de novos free shops para que o município ganhe com a vinda de mais turistas e gere mais empregos, assim retendo os talentos aqui na cidade, além de permanecermos com o título de Capital dos Free Shops”.
“Temos vários novos empreendimentos em fase de execução ou em projetos a serem executados em 2024 e 2025”, assegura. Revelando que para o final do próximo mês de setembro está prevista a inauguração da terceira loja do Central Free Shop e, para novembro, a Stambul Free Shop, além da previsão de empreendimentos para o ano que vem. As novas lojas fortalecerão o comércio ao lado das já existentes Central Free Shop (2 lojas), Bah Free Shop (2 lojas), Brasil Free Shop (3 lojas), New York (3 lojas), Dufry Free (1 loja) e Bambino (1 loja).
O Central Free Shop foi a segunda loja franca a ser inaugurada em Uruguaiana e primeira fundada por um empreendedor da cidade, Salman Adel Salman, no ano de 2019. Instalada com pouco mais de 200m², em 2020, foi mudada para um imóvel maior, de 1200 mts2. O negócio deu tão certo que em 2021, foi inaugurada a filial, com cinco andares e quatro mil metros quadrados.
Conforme o empresário, ele foi motivado a investir nas lojas francas ao observar os free shops de Rivera e Bella Union, no Uruguai. O modo como trabalhavam e geravam empregos, oferecendo produtos de qualidade, importados e diferentes aos clientes, com preços competitivos, chamou sua atenção.
Salman disse que a maior parte das vendas do Central Free Shop são de cidades do interior do RS, representando 30% , seguido por compradores da capital Porto Alegre (22%), Uruguaiana 15%, Argentina 15%, outros estados 11 % de outros estados brasileiros e 8% do Uruguai. “Nossa pretensão é atrair cada vez mais o turista para conhecer Uruguaiana”, ressaltou.
“Acredito que os free shops deram o impulso necessário para que os uruguaianenses revelassem o potencial que sempre tiveram. Nosso povo é conhecido por ser trabalhador, inovador e determinado a crescer”, declarou o empresário, bastante motivado com o resultado positivo das lojas francas.
Para o empresário Paulo Pavin, da rede Bah Free Shop, o acesso a produtos de marcas famosas, que só eram vistos na tv, internet e revistas, estão ao alcance de todos e é algo muito significativo. “Estamos vivendo uma transformação social e econômica. Jovens que moram foram, retornam mais vezes para a sua cidade e trazem amigos para conhecer as lojas francas. Moradores do campo vem mais vezes à cidade. Um dia desses uma senhora do interior me disse que pode comprar o perfume que a via na tv com a estrela de hollywood. Pessoas que nunca viajaram de avião para o exterior, podem ter produtos importados. É uma grande indústria de inclusão social”, afirma.
O empreendedor informa que 80% dos seus clientes são de fora de Uruguaiana, incluindo turistas de diferentes regiões do RS e de outros estados, assim como estrangeiros. Ele disse perceber que “antes dos free shops, os uruguaianenses aproveitavam o passeio em Porto Alegre para fazerem compras em shoppings e hoje existe uma inversão, com os porto-alegrenses vindo à Uruguaiana para comprarem”.
Pavin assegura que não há como negar que as lojas francas qualificam o comércio, deixando-o mais atrativo e acessível, além da criação de novos postos de trabalho. “Hoje contamos com 110 colaboradores nas nossas lojas. Muitos são jovens no seu primeiro emprego, que encontram nos free shops uma oportunidade. E são ótimos, pois eles estão ligados com a tecnologia”, assegura Pavim.
A empresária Caroline Righi, do Bambino Free Shop, acredita que o grande diferencial dos free shops brasileiros frente aos estrangeiros, está nos preços acessíveis e nas condições de pagamento. “As nossas lojas francas estão democratizando as compras de produtos importados e de boas marcas, disponíveis para todas as classes sociais e isto eleva a autoestima e a qualidade de vida dos uruguaianenses, consolidando cada vez mais a cidade como a Capital Brasileira dos Free Shops”.
Inaugurada em maio de 2021, a Bambino Free Shop é uma inovação na cidade, por ser direcionada ao público infantil, comercializando brinquedos em geral e artigos para bebês, como carrinhos, cadeiras de alimentação, para o carro e berços portáteis, entre outros itens importados.
Caroline conta que viu nas lojas francas uma perspectiva para desenvolvimento do comércio local e resolveu apostar em um negócio nichado.
Segundo a empreendedora, a maioria dos clientes da Bambino ainda são de Uruguaiana, mas que existe um número significativo de compradores de cidades vizinhas, que buscam, principalmente, artigos para bebês, além de turistas que vem de longe e passam pela cidade. “Nos últimos meses estamos observando um crescimento dos clientes argentinos, que estão voltando a consumir em Uruguaiana”, constata.
Conhecidas também como Duty Free, Free Shop ou Duty Free Shop, as lojas francas possuem um regime aduaneiro especial, sem a cobrança de tributos e isentas de ICMS. No entanto, para a liberação da Receita Federal, é necessário que o empreendimento comercial esteja regulamentado com as leis de âmbito municipal e federal.
As lojas francas em fronteiras terrestres, em municípios caracterizados como cidades gêmeas de cidades estrangeiras na linha de fronteira do Brasil, tiveram as instalações autorizadas a partir de 2012, aptas a vender mercadorias nacionais e estrangeiras. Em Uruguaiana elas foram autorizadas a funcionar em 2015, com a finalidade de promover e potencializar o desenvolvimento local e regional.
O conceito de cidade gêmeas foi definido pela Portaria do Ministério da Integração 125/2014 e é vinculado aos municípios situados na linha de fronteira. A definição só é válida para as cidades que tenham, individualmente, população superior a dois mil habitantes.
Oficialmente existem 32 cidades gêmeas no Brasil, ou seja, cidades fronteiras com países vizinhos. Nosso país compartilha o reconhecimento com a Argentina, Paraguai, Uruguai e Guiana Francesa.
Até junho de 2023 as cidades gêmeas em território nacional contavam com os seguintes números de lojas francas: Uruguaiana (RS) – 10 lojas; Foz do Iguaçu (PR) – 8 lojas; Barra do Quaraí – RS: 4 lojas; Jaguarão – RS: 3 lojas; Sant’Ana do Livramento – RS: 1 loja; São Borja – RS: 1 loja; Corumbá – MS: 1 loja; Barracão – PR: 1 loja; Guaíra – PR: 1 loja; Chuí –RS: 1 loja; Porto Mauá –RS: 1 loja; Porto Xavier –RS: 1 loja.
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