A região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul figura entre as maiores produtoras de arroz irrigado do Brasil, sendo a maior produtora do grão no Estado. Uruguaiana e Barra do Quaraí juntas contam com aproximadamente 300 Unidades Produtivas, totalizando mais de 500 produtores que cultivam o alimento que é quase uma tradição na mesa das famílias brasileiras, de norte a sul do país. Dados do Ministério da Agricultura (Mapa) apontam que no Brasil o consumo anual do grão é de, em média, 25 quilos por habitante. Em termos de nutrição, a Organização das Nações Unidades para Agricultura e Alimentação (FAO), garante que o arroz é capaz de suprir 20% da energia e 15% da proteína da necessidade diária de um adulto, além de conter vitaminas, sais minerais, fósforo, cálcio e ferro.
De acordo com o coordenador regional do Irga, Ivo Mello, o Rio Grande do Sul contribui com pelo menos 70% do arroz em casca colhido no Brasil. “Em média, nas últimas safras, a Fronteira Oeste tem contribuído com 30% deste montante, o que significa que cerca de 21% de todo o arroz produzido no Brasil vem da Fronteira Oeste”, disse.
Segundo Alamir Mora, técnico Orizícola do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), até 25 de janeiro a estimativa de área plantada na região era de 80.244 ha em Uruguaiana e 26.026 ha na Barra do Quaraí. Números que poderão ou não sofrer alterações em fevereiro.
Super safra é descartada na região
Se tratando de plantio na região, o presidente da Associação dos Arrozeiros de Uruguaiana, Roberto Fagundes Ghigino, informa que 90% do arroz de Uruguaiana /Barra do Quaraí foi plantado na época ideal, ou seja, em setembro do ano passado. No entanto, revela que esse plantio teve um pequeno atraso em função da leve estiagem que antecedeu o período de chuvas. Conforme ele, em dezembro as plantações sofreram novamente com as fortes chuvas, ocasionando prejuízo em algumas lavouras que precisaram ser replantadas.
Apesar do pequeno atraso, a expectativa de Ghigino é que Uruguaiana tenha uma safra boa, no entanto, descarta uma “super safra”.
Para o produtor, o setor orizícula passa por um momento delicado, com pouca liquidez e elevação nos custos da lavoura. “Neste momento uma das alternativas para os arrozeiros seria o aumento de preço que pode ser através da exportação do excedente do arroz”, diz.
Mello, do Irga, compartilha a expectativa de Ghigino, de uma boa safra, levando em consideração que mais de 90% do arroz foi semeado na época recomendada. “Este fato por si só já é uma garantia de que teremos o melhor aproveitamento das condições ambientais de luminosidade e calor, características do verão gaúcho para o arroz irrigado”. Por outro lado, ele lembra que o percentual de variedades com genética de maior potencial de produção foi incrementado na atual safra, com produtores que buscaram adaptar seu manejo à tecnologia que comprovadamente conferisse maior produtividade. Por último, aponta que nesta safra, o produtor teve acesso facilitado à fertilizantes importantes na construção desta produtividade, seja por preço ou mesmo por logística de entrega.
Indústria do arroz na expectativa da safra
Segundo dados do Mapa, entre 1975 e 2005, o Brasil reduziu a área de plantio em torno de 26% e, mesmo assim, aumentou sua produção de arroz em 69%, graças ao aumento de 128% na produtividade média. O crescimento da produção permitiu ao país tornar-se autossuficiente em arroz na safra 2003/2004. Em 2005, o Brasil chegou a exportar 272 mil toneladas de arroz. Atualmente apenas 5% da produção nacional é destinada à exportação.
Para o presidente da Associação das Indústrias do Arroz de Uruguaiana (Indarroz), Ademir Boencio, neste momento a situação da indústria de arroz em Uruguaiana é de expectativa em torno da atual safra, levando em conta que a matéria prima está no final e as ofertas são poucas. “ Com a promessa de uma super safra, as indústrias esperam baixa nos preços”. Ele informa que o mercado varejista também está comprando pouco e com isso, a indústria sofre influência, pois também não consegue bons negócios, tanto na quantidade de vendas como na margem de lucro que praticamente não está existindo. No entanto, Irga e Associação dos Arrozeiros descartam a possibilidade de uma super safra.
O arroz produzido em Uruguaiana é vendido no comércio local, também em todo o Brasil, com exportações ocasionais para países da América do Sul. Segundo Boencio, Uruguaiana conta hoje com cinco indústrias de beneficiamento e empacotamento, além de empresas de comercialização e secagem de arroz. Lembra que cada empresa tem suas marcas próprias, citando algumas, como o Arroz Itaobi (branco e parboilizado), Arroz Sano(branco), Arroz Guacira (branco), Arroz Requinte( branco) e Arroz Pateko (branco).
A indústria do arroz depende da safra regional. “A expectativa é de boa oferta de arroz em casca para a indústria, mas teremos que enfrentar a concorrência de países produtores vizinhos, Uruguai, Paraguai e Argentina, que produzem com custos mais baixo do que o nosso e isso dificulta na hora da comercialização”, ressalta. “A concorrência é pesada”, finaliza.