Cada dia que a chuva não chega representa um prejuízo a mais na agropecuária e a situação começa a agravar nos campos de Uruguaiana e região. A fronteira oeste arde com o calor e o sol escaldante. A escassez de água que já acontece no centro do Rio Grande do Sul começa a ser vivenciada na fronteira, com barragens secando, queimadas nos campos, perda de peso no gado e plantações ameaçadas.
Uruguaiana está entre os 384 municípios gaúchos em situação de emergência devido à estiagem no Estado. Segundo a Defesa Civil, este número corresponde a mais de 60% das 497 cidades do RS. De acordo com as a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS) esta seca é a pior dos últimos 17 anos, com perdas que já chegam a R$ 20 bilhões. Em todo o estado, o prejuízo está no campo.
Em Uruguaiana já ocorreram 180 incêndios em vegetação, entre os dias 22 de dezembro do ano passado até o último 16 de janeiro de 2022, queimando cerca de 3 mil hectares de campo, segundo informações do tenente Jorge Martins, comandante do Corpo de Bombeiro de Uruguaiana. Para impedir novos focos, ele aconselha evitar qualquer tipo de fogo controlado neste período e, quando não for possível, é necessário limpar o terreno, retirando toda a vegetação para longe.
O rio Uruguai, que abastece a cidade, está muito baixo, numa situação preocupante. Conforme o gráfico do ponto de monitoramento do rio Uruguai em Uruguaiana, do site do Serviço Geológico do Brasil /CPRM http://sace.cprm.gov.br/uruguai/# o nível atualizado na quarta-feira (02/02), é de 1.14 m. Já o nível mais baixo registrado no período foi de 74cm, em 18 de janeiro.
Produtores rurais são os mais afetados pela seca, tanto da agricultura familiar, como o orizicultor ou criador de gado. Todos estão enfrentando os obstáculos impostos pela estiagem com a falta de chuva e o calor excessivo, plantações morrendo, gado emagrecendo e barragens secando e prejudicando a irrigação das lavouras. É um cenário devastador que afeta a economia.
O pecuarista Nilson Faria Correa, presidente do Sindicato Rural de Uruguaiana alerta que o momento é muito complicado e já apresenta bastante prejuízo, com várias áreas de campos queimadas, muitas delas já sem o verde, indispensável para a reprodução. “O verde é fundamental para que as vacas possam entrar em cio e novamente pegarem prenhez”, diz.
Segundo o criador, o prejuízo na pecuária ainda pode ser considerado relativo, pois “algumas áreas têm bastante água, enquanto outras não, com prejuízos que já são grandes, com o índice de prenhez ameaçado e pouco animais para abate, pois não tem como engordar com esta seca”. Ele observa que que os prejuízos estão somando dia após dia. “Se não tivermos chuvas o mais breve possível, os problemas começam a se acumular. Um dia a mais sem chuva representa muito prejuízo para o campo, com 40 graus na sombra e no sol, no campo, sensação térmica de mais de 50 graus, com uma evaporação aproximada de oito milímetros por dia”, diz.
O calor excessivo para os animais e propriedades com pouca água é um fato ameaçador. Para amenizar o problema, Nilson conta que muitos criadores “estão deixando todas as porteiras abertas para que os animais possam beber água em alguma barragem por perto”. Nas áreas de campo que não tem caponetes (pequenas áreas de capão), a dificuldade e o problema são maiores para o engorde.
Quanto às pastagens, o pecuarista diz que “estão comprometidas, com campos ficando amarelos, branqueando, com mais áreas de pedras”, lembrando que “alguns produtores tentam fazer pastagens, mas em razão da falta de umidade estão se desenvolvendo bem devagar, representando investimentos com pouco retorno”.
“Acredito que algumas propriedades estão tendo alguma perda de gado. Alguns já tiveram perda de campo, com relatos de ovelhas que tiveram problemas e morreram”, finaliza.
Com a colheita prevista para a primeira semana de fevereiro, a seca já pode ser considerada uma grande vilã que ameaça a safra e preocupa os agricultores.
A estiagem está secando as barragens que irrigam as lavouras de arroz da fronteira oeste. Produtores de Uruguaiana e Barra do Quaraí estão vivendo uma preocupação diária. “Cada dia que a chuva não chega nos campos para molhar a terra e aumentar o nível de água das barragens, representa um prejuízo a mais”, afirma Roberto Fagundes Ghigino, agricultor e presidente da Associação dos Arrozeiros de Uruguaiana. “Cada dia sem chuva representa mais áreas com problemas e abandonadas, mais perda na produtividade, com a produção cada vez mais comprometida em função do calor excessivo. O arroz gosta de calor, mas não este calor, com sensação térmica de quase 50 graus celsius”, completa.
A falta de irrigação põe em risco as áreas de plantações. Conforme Ghigino, a área plantada no município na safra 2021/2022 foi de 78.500 hectares (ha). “Antes da seca a produção era de 10.345 quilos, já com a estiagem, o percentual de área comprometida pode chegar a 25% de perda total”, disse, informando que na Barra do Quaraí, “a intenção é de 28 mil hectares com 10.178 quilo de produtividade por hectares e o risco de perda de área total também é de 25%”. No entanto, entende que somente após a colheita, no final de abril, o prejuízo real e total poderá ser calculado com precisão.
Conforme Ghigino, 80% das águas que irrigam as lavouras vem das barragens da nossa campanha, que também servem para matar a sede dos animais. São mais de 500 barragens que estão em situação de risco, os outros 20% são banhados pelos rios. “Ter o rio Uruguai é fantástico”, declarou, salientando que ele ajuda muito neste momento.
A chuva, tão esperada, teria que chegar com muita água. “Para encher algumas barragens e salvar algumas lavouras, teria que chover mais de 150 milímetros”, diz o agricultor, lembrando que água para consumo humano não está faltando nos campos, pois vem dos poços artesianos.
Maurício Molina foi um dos criadores que teve o campo atingido pelo fogo. Foram 35 ha queimados do total de 50 ha, na localidade do Imbaá. “Muito prejuízo a seca traz, além da queima de pasto, piora a qualidade nutricional que, dependendo do tempo, vai se terminando também”, afirma, completando que “com a queimada, a fauna microbiana é atingida e morre, pois ela vive e se procria na umidade e, após o fogo, levará anos para se recuperar na mesma proporção”.
O criador lamenta a seca e suas consequências, observando que um grande banco de espécies morre com o fogo, além de sementes, animais como minhocas, passarinhos e lagartos, entre outros. A falta de água para os animais beberem e para as plantas se desenvolverem é outro problema da estiagem. “Até as árvores sofrem, dependendo do tempo de seca”, afirmou.
Além do prejuízo com o campo, queima de cercas, a seca atrapalha o desenvolvimento do animal no ganho de peso e na planta que não se cresce como deveria, que não vai ter a quantidade certa de grãos e, dependendo do tempo de seca, nem formará grãos. O reflexo, diz, será sentido na cidade, no preço dos alimentos, com pessoas pagando mais caro pelo arroz e soja, por exemplo.
A chuva, de acordo com a Somar Metereologia, reaparecerá a partir desta sexta-feira (4), seguindo no sábado (5). Na nossa fronteira, estima-se algo entre 5mm e 25mm. Conforme a previsão a partir do domingo (6), o tempo seco retorna e outro evento de chuva promete acontecer em 11 de fevereiro, também sexta.
Redação: Giovana Petrocele – Ascom ACIU
Fotos: Divulgação
Mais dados sobre a estiagem em:
https://www.defesacivil.rs.gov.br/estiagem