Cada vez mais empresas calculam a sua pegada de carbono, mas de acordo com o método e perímetro escolhidos, o resultado em toneladas de gases de efeito estufa emitidos na atmosfera e suas metas de redução podem variar. Dada a magnitude da tarefa de reduzir as emissões e os riscos de “greenwashing” por parte das empresas, especialistas destacam a importância de conhecer as etapas do cálculo.
O cálculo de um balanço de emissões pode ser uma obrigação, legal ou comercial, ou uma medida voluntária. Enquanto aguarda a elaboração de um padrão universal, existem três metodologias principais: o GHG Protocol (Estados Unidos), o Balanço de Carbono (França) e o padrão ISO 14067 (internacional), desenvolvidos no início dos anos 2000 e compatíveis entre si, apesar de algumas diferenças. Eles classificam as emissões por setores.
O ponto nº 1 de acordo com o GHG Protocol são as emissões diretamente ligadas às atividades da empresa (combustão in loco, frota de veículos…). O número 2 são aqueles ligados à produção da energia consumida (eletricidade, calor/frio), enquanto o número 3 são aqueles ligados indiretamente à produção, em sentido ascendente (compra de bens e serviços, transporte, bens imóveis, viagens profissionais, investimentos ) e descendente (desperdício, uso e fim de vida de produtos, franquias…).
O primeiro passo é analisar os guias setoriais para identificar os principais pontos de emissão e decidir se recorre a um órgão especializado, explica à AFP Fanny Fleuriot, coordenadora de contabilidade de carbono da Agência de Controle de Meio Ambiente e Energia (Ademe).
As empresas de contabilidade de carbono estão crescendo continuamente com tanta demanda. O custo pode variar de algumas centenas de euros para uma pequena ou média empresa a várias centenas de milhares de dólares.
“Começamos com uma reunião para entender o modelo econômico da empresa”, explica Amélie Klein, especialista em quantificação de carbono da EcoAct.
As empresas definem o ano que servirá de base para os objetivos de redução – muitas vezes o ano do primeiro balanço – e o perímetro.
As obrigações legais referem-se apenas aos pontos 1 e 2, mas para Fanny Fleuriot, “limitar-se a eles equivale a perder 70% do seu impacto”, já que o ponto 3 muitas vezes representa a maioria das emissões.
A coleta de dados começa então, o que pode levar vários meses. Faturas de compras e de energia elétrica, registros de imóveis, maquinário e veículos, viagens de funcionários: a lista de informações é longa.
“O cliente pode fornecer diretamente o consumo de energia em kWh”, mas quando não há volumes exatos para todas as fontes de emissão, as médias setoriais podem ser usadas, explica Klein.
Para emissões relacionadas ao uso de um produto, por exemplo, uma empresa de aspiradores pode conhecer a vida útil e o consumo de seu modelo ou utilizar o consumo médio de um aspirador.
“Você sempre se adapta aos dados que tem. Você pode calcular a pegada de carbono com o faturamento ou com uma tabela excel de 10.000 linhas”, acrescenta Klein
Os dados, expressos em volume (toneladas, kWh…) ou em valor monetário, são então multiplicados pelo fator de emissão correspondente.
Por exemplo, o número de toneladas de aço compradas é multiplicado pelo fator de emissão correspondente à produção de uma tonelada de aço. O resultado é equivalente em toneladas de CO2.
As médias e os fatores de emissão são calculados a partir de análises de ciclo de vida de escritórios, federações profissionais, engenheiros.
Para Karthik Ramanna, professor da Oxford, seu uso no ponto 3 cria um “paraíso de greenwashing” para as empresas, já que as médias são contrárias às regras contábeis….
Sob o novo sistema de contabilidade de carbono, ele teorizou, “apenas dados específicos do fornecedor podem ser usados”.
Assim, cada empresa deve “calcular seu ponto 1 e transferi-lo para sua cadeia de valor”, explica.
O próximo passo é o estabelecimento de metas de redução de emissões e o treinamento de equipes nesse sentido.
Para medir o progresso, é necessário repetir o cálculo, mas também refiná-lo, pois os fatores de emissão e o perímetro (fusão/aquisição, mudança de fornecedores) podem variar.
As ferramentas de rastreamento automatizadas já estão no mercado.
Para chegar o mais próximo possível da realidade, a empresa pode abandonar as médias setoriais e incluir as emissões reais de seus fornecedores.
Esse é o desafio dos próximos anos: um sistema padronizado de dados de carbono, transmitidos ao longo da cadeia de valor com o mesmo rigor dos dados contábeis, explica Ramanna.
Assim, “consumidores e investidores poderão tomar decisões conscientes”, resume.
Fonte: Uol