Além de contribuir com a produtividade regional, o empreendimento valoriza o produto da terra e fortalece o turismo rural.
A empresa que começou a funcionar em setembro de 2019, localizada a 30 km do centro de Uruguaiana, no interior do município da Barra do Quaraí, no Rio Grande do Sul (RS), traz inovação e eleva a questão terruá* em cada queijo produzido com sabor do pampa.
A queijaria idealizada pelos empresários Paulo Ceratti e Mariana Rosa tem como produto principal o queijo autoral, produzido a partir do leite cru, com características próprias do ambiente da fronteira oeste do Estado. Além da produção, a Canto Queijaria promove ativistas turísticas, com visitas ao local, onde as pessoas podem vivenciar a vida campeira e ver como são produzidos os queijos, degustando os diferentes tipos.
A história da queijaria é longa. Começa bem antes dela existir, quando o casal Mariana e Paulo, ela porto-alegrense, estilista de formação e ele, uruguaianense, formado em Publicidade e Propaganda na capital gaúcha, Porto Alegre, ambos atuando em suas respectivas áreas, decidiram largar suas profissões e investir em algo inovador e prazeroso.
“Quando estávamos próximos aos trinta anos, repensamos nossas vidas e carreiras. Queríamos encontrar um trabalho com um propósito maior que apenas dinheiro. Foi quando a história de nossas vidas começou a mudar de rumo”, disse Mariana. Ela conta que no ano de 2014 os dois pediram afastamento temporário nas empresas que trabalhavam e foram morar quatro meses em Nova York. “Vendemos um carro e fomos para os EUA”, dispara.
“A partir dessa estada em Nova York, que é o centro de tudo, com várias culturas diferentes, procuramos nos inspirar, pois fomos de coração aberto e quando chegamos estava acontecendo um movimento muito pulsante que nos chamou muito a atenção: era o movimento de aproximação do campo e da cidade”, lembra a empresária. Segundo, ela, “os grandes centros de Manhattan e Brooklin, estavam muito ávidos pelos produtos artesanais, por conhecer o produtor, olhar no olho dele e ver a origem daquele alimento, assim como visitar as propriedades que vendiam aquele alimento nas feiras”.
Foi dentro deste contexto que o casal de empreendedores começou a participar do movimento como cliente, encarando como um hobbie e não como um trabalho. “Começamos a perceber que ali estava começando algo muito significativo e, no nosso olhar, era algo que poderia sair de Nova York rápido e ganhar o mundo”, lembra.
Em Nova York, Mariana e Paulo encontraram o trabalho com propósito que procuravam e apropriaram-se do movimento, onde criaram relações com os proprietários de sítios e adquiriram muito conhecimento.
No retorno à Porto Alegre, voltaram para suas áreas, ele no marketing e publicidade e Mariana, na indústria da moda. Cerca de um mês após a volta, Paulo recebeu uma proposta para assumir um shopping em Belo Horizonte (MG). Acabaram caindo na terra do queijo artesanal brasileiro, onde sua cultura é forte e começaram a visitar propriedades. “Lá todo mundo tem uma relação de queijo na família. Existem as regiões conhecidas do queijo e começamos a visitar e a comer o queijo de maneira diferente, a nos relacionarmos com queijo de maneira diferente. Nos aproximamos e nos apaixonamos pelo fazer e pareceu alinhavado com o movimento que vimos em Nova York”, declarou Mariana.
A trajetória de aquisição de conhecimento durou três anos, todo tempo da estadia dos empresários em Belo Horizonte, onde aproximaram-se da cultura do queijo, ainda sem fazê-lo. Após, moraram em São Paulo, onde conhecerem o projeto “Queijaria” e estudaram a produção do queijo artesanal, cru. Também aprenderam sobre fermentação e maturação, além de todos os processos de fabricação de queijos. Ainda em território paulista, Mariana engravidou da primeira filha, Olívia, quando decidiram vir para Uruguaiana e construir a queijaria e uma nova vida no canto do Brasil.
A queijaria foi construída dentro da propriedade São Miguel, da família de Paulo, onde a produção de leite é uma tradição. Mariana conta que o nome do empreendimento “veio deste canto, deste pedacinho de Brasil”. “Geograficamente estamos num canto e em segundo lugar, é o cantinho que a gente escolheu viver”, ressalta.
O projeto é especialmente sobre queijos artesanais e autorais, assegura a empresária, explicando que não seguem nenhuma receita tipada, como queijo tipo brie, camembert ou gorgonzola. “São queijos que a gente desenvolveu a partir de experiências e testes e criamos as receitas da nossa maneira e colocamos no cardápio”, afirma, informando que os queijos são titulados com alguma referência ao pampa, cujo objetivo é levar um pouco da cultura, do regionalismo e da história para dentro do queijo. “O queijo Jarau, por exemplo, homenageia o Cerro do Jarau. Também tem o queijo Pampeano e o queijo Aragano. Através do manejo que é todo pasto, conseguimos trabalhar a questão terruá, do sabor desta terra, desta localidade, deste pampa, deste canto”, garante a empreendedora.
A Canto Queijaria “é um pouco desta coisa do lar e tem muito disso na nossa recepção na queijaria, algo simples, com carinha de casa de vó, que aconchega, abraça e serve, com algo saboroso, feito com as nossas mãos”, declara.
Os queijos da Canto Queijaria podem ser comercializados diretamente na empresa e eventualmente em feiras de pequenos produtos, na praça do Barão, nas manhãs de domingo. Também em pontos comerciais dentro de Uruguaiana, entre eles, a La Barra Queijaria, o mercado do Galo e a Manos na Massa.
Segundo Mariana, fora de Uruguaiana os queijos são vendidos para vários lugares, em diferentes cidades do Brasil. “A gente está no Paraná, Santa Catarina e RS, que é o nosso terceiro mercado dentro do nosso estado, não necessariamente aqui em Uruguaiana”, informa. “Nosso mercado principal é Rio de Janeiro e São Paulo, onde temos pelo menos uns dez clientes. Também vendemos bastante para Brasília, com dois clientes bem importantes”, diz.
A Canto Queijaria trabalha muito com os hotéis da Serra Gaúcha, cujo maior cliente é o parador Casa da Montanha, uma rede de hotel de alto padrão, de Cambará do Sul, nos campos de cima da serra, com hotéis em outras cidades, inclusive em Gramado. Também existem clientes em Bento Gonçalves, além da parceria com vários chefes de cozinha do RS e fora, que levam a marca e o projeto da fronteira. “A questão de terruá do pampa é muito séria. Estamos em vários eventos de gastronomia e restaurantes, considerados importantes, em alguns deles, estamos no cardápio”, conta com orgulho.
Um dos pontos importantes é o movimento de envio de queijos para pessoas físicas, que podem comprar pelo instagram da Canto, que envia pelos Correios para outros lugares.
Características dos queijos artesanais produzidos pela Canto Queijaria tem como diferencial o leite cru, não pasteurizado, ou seja, nenhuma bactéria do leite é morta, mantendo-o natural, sem desnatar e sem nenhum tipo de aditivo químico, sendo 100% natural. Mariana atesta que, “com rebanho próprio, é assegurada toda a sanidade do gado no manejo e, quando o leite chega no tanque, é garantia de um produto saudável para ser trabalhado de maneira crua, por isso o sabor e o odor vivo, pois as bactérias estão ali, vivas, não foram mortas na pasteurização”.
Outro ponto importante na produção dos queijos da Canto, e´ a longa maturação de mofos naturais. “Não inoculamos nada químico, não colocamos nada nem no ar, nem no leite, nem na maturação, que desenvolva de maneira artificial. Tudo o que acontece é da própria natureza e território”, disse, completando que “os queijos têm a presença de mofos brancos que são os mesmos dos bries e camemberts franceses”. Mariana explica que o mesmo mofo que tem lá na França, existe na localidade onde a Canto produz. “Temos também, de maneira natural, a presença de mofos azuis, roquefort e gorgonzola, que são os mesmos de algumas regiões da Europa que produzem esses queijos”. Ela informa que trabalham a questão território desta maneira, respeitamos a sazonalidade dos mofos e ambiente, deixando que o mesmo imprima a identidade dos queijos.
O projeto da Canto Queijaria está intimamente ligado ao turismo rural, fortalecendo a questão em Uruguaiana e região Pampa. A queijaria, assim como as vinícolas e olivais, participa das rotas do vinho da Campanha Gaúcha, com o objetivo de criar rotas e roteiros, que possam movimentar o turismo de maneira mais forte e mais potente nos campos fronteiriços.
Terruá
(fr.terroir = do torrão, do lugar). Identifica algo ou um produto (um vinho, um ritmo musical, uma iguaria) específico de um determinado lugar. Produzido no lugar, no torrão, na região. Se originou da palavra francesa “terroir”, que significa o que é particular ou típico de um local.
Conheça a Canto Queijaria no instagram: https://www.instagram.com/cantoqueijaria/